De família católica e ex-seminarista, o professor-doutor José Francisco de Assis Dias não esperava que o lançamento do livro "Memórias de um Exorcista – A Minha Vida em Luta Contra Satanás", com sua tradução, fosse despertar tanto interesse no público. Leigos, religiosos e curiosos de todos os tipos, lotaram os quatro cursos do professor em Maringá. No último, quinta-feira, foram mais de 400 ouvintes. Dias leciona na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Maringá e é mestre e doutor pela Pontifícia Universidade Urbaniana, no Vaticano, em Direito Canônico e Filosofia. Dentro da doutrina católica, aproximou-se de um tema que é pouco comentado até mesmo dentro da Igreja: o exorcismo.Quando jovem, ele presenciou uma possessão demoníaca que durou horas. Ao estudar o tema, acompanhou mais sessões e mantém diálogo com dois exorcistas. Entre eles, o padre italiano Gabriele Amorth, exorcista de Roma, das memórias que Dias traduziu.
A possessão verdadeira, como ele chama os casos em que um demônio toma conta do corpo de alguém ou alguma coisa, é rara. Mas existem outros sintomas, como dores sem origem diagnosticada e até mesmo ações que podem ter influência direta dos demônios que circundam os homens. Para afastar demônios, o conselho do professor é rezar e ocupar o espaço vazio no espírito com Deus."Quando vai cometer um pecado vai ouvir uma ‘vozinha’ na sua cabeça falando "não faça". E outra, "mas é tão bom". Então você tem a sugestão de um anjo e do demônio".
O Diário - O teu curso trata de demônios e anjos. Quem são esses seres?
José Francisco de Assis Dias - Na Bíblia, os anjos aparecem desde o Antigo Testamento. Hoje, na doutrina da Igreja Católica, nós temos o credo vicentino constantinopolita, com clara evidência da existência desses seres. Lá diz: "Creio na existência de Deus, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis". As visíveis abrangem todo o universo que a ciência consegue estudar, o universo sensível, não só a Terra. Tudo aquilo que a ciência conhece e tudo aquilo que ela vai conhecer no futuro. Mas a fé católica, com base na Bíblia, professa a existência de um mundo invisível formado por seres de puro espírito, que nunca tiveram matéria. Eles não podem ser vistos, mas atuam, são inteligentes, livres e têm vontade própria. E a existência deles faz parte da fé da Igreja, não só da católica, masde toda religião que tenha como fundamentos as escrituras.
O Diário - Qual a interação entre anjos e homens?
José Francisco de Assis Dias - Eles estão aí, atuando o tempo todo. A Igreja professa que cada um tem o seu anjo da guarda. Quando dizemos que eles estão no céu, a gente se refere ao estado de espirito no qual ele se encontra. Eles estão em ‘estado de paraíso’, mas estão aqui para nos proteger. Quando, diante de um perigo, você tem um reflexo. Você tem essa capacidade, mas é o anjo que pode sugerir para você acioná-la. Ele é uma ação divina para nos proteger, fisicamente e espiritualmente. Quando vai cometer um pecado vai ouvir uma ‘vozinha’ na sua cabeça falando "não faça". E outra, "mas é tão bom". Então você tem a sugestão de um anjo e do demônio. E quem vai decidir? Você. Você tem livre arbítrio.
O Diário - Como que os demônios agem na vida dos homens?
José Francisco de Assis Dias - Os demônios também são seres de espírito, mas que querem nos prejudicar. Ele não odeiam só os homens. É uma consequência do ódio a Deus. O objetivo é destruir a obra de Deus, provocar uma morte espiritual. Para que a humanidade cometa pecados, Satanás, como chefe, ocupa-se dos grandes líderes, dando sugestões, por exemplo, no Legislativo brasileiro. Sugestão para os nossos legisladores aprovarem certas leis que são imorais, que resultam em malefício para a população. Sugestão aos nossos políticos para roubar o dinheiro da educação. Na Itália, desde 1978, é permitido o aborto. Satanás, conseguindo com que uma lei dessa seja aprovada, conseguiu fazer com que a população pecasse contra a vida. Quantas mãe mataram seus filhos, quantos médicos desenharam seu compromisso com a vida e se tornaram assassinos? Os males espirituais são gozo para o demônio. Quando queremos viver de acordo com a palavra de Deus, nós despertamos a sua ira.
O Diário - Quem é a vítima de ação demoníaca?
José Francisco de Assis Dias - Qualquer um de nós, em qualquer situação. Mas a possessão verdadeira é muito rara. O padre Gabriele Amorth fez mais de 70 mil sessões de exorcismo, não em 70 mil pessoas, mas sessões. Dessas, ele encontrou muita contaminação, opressão, mas encontrou mais de 100 possessões verdadeiras. Mas existem outras ações, como a contaminação, que é muito frequente. São aqueles males que a gente vai no médico e não encontra resposta. Uma dor muito forte, vai ao médico, faz exames e não encontram nada. Ficou evidente que não é causa física. Para ter certeza, a pessoa precisa fazer uma oração de libertação. Se for físico, a oração não vai resolver. Se for uma contaminação, ou opressão, vai desaparecer, não tenha dúvida. Ao dizer o amém da oração, isso desaparece imediatamente. A opressão é o nível seguinte. Seria se sentir surrado por uma coisa invisível. Sentir chicotadas no corpo. Você olha e tem vergões de chicotadas invisíveis. Isso seria um teor maior de opressão. Padre Pio é o exemplo maior de opressão atualmente. Ele era surrado pelo demônio até sangrar.
O Diário - Por que acontecem as possessões?
José Francisco de Assis Dias - A possessão é sempre uma demonstração de poder e só acontece em último caso. Satanás não tem interesse em possuir ninguém. Os demônios não querem publicidade, ao contrário, eles querem anonimado. A possessão assusta. Quem presencia, corre procurando uma vida de oração, sacramentos e busca colocar em ordem a sua vida familiar e espiritual. Pessoas se jogam no chão e falam que estão possuídas. A pessoa possuída não faz isso. A pessoa pode, por exemplo, ser oprimida pelo demônio por muito tempo, mas sem ser possuída.
O Diário - Como acontece a possessão e o que o exorcista faz?
José Francisco de Assis Dias - A possessão, normalmente, é assim: a pessoa chega andando na frente de um exorcista, caminhando, tranquilo. O padre Gabriele, por exemplo, não costuma avisar que vai fazer o exorcismo. A pessoa o procura para uma benção. Em latim, ele começa uma oração de exorcismo, a pessoa não entende. Quando ele começa, a pessoa entra em transe. Um dos sintomas, ao abrir a pálpebra, o olho do possuído está branco, com o globo ocular para dentro. Como nessas cenas de exorcismo que a gente vê em filme. É autêntico. Aí ele já amarra a pessoa. A alma da pessoa fica adormecida. Nesse momento, o corpo fica totalmente sob o domínio daquele espírito.
E a pessoa se refere ao corpo em terceira pessoa, evidenciando que, se não for um transtorno de personalidade, é uma outra pessoa. Aquela manifestação de se jogar, se bater, só acontece como reação a uma oração de libertação.
O Diário - Quem pode fazer o exorcismo?
José Francisco de Assis Dias - Existem dois tipos de exorcismo, o exorcismo maior, solene, que é uma oração pública, em nome da Igreja Católica. Ele segue um ritual e só pode ser utilizado por um sacerdote que seja exorcista denominado pelo bispo da arquidiocese. O pároco não pode fazer exorcismo, mas pode fazer uma oração de libertação, com o mesmo efeito, é o exorcismo menor, invocando o nome de Jesus para que esse demônio saia. E se ela é feita com fé, funciona. Num caso urgente, o pároco pode ligar para o bispo e pedir permissão para fazer exorcismo.
O Diário - Como evitar que uma manifestação ou possessão aconteça?
José Francisco de Assis Dias - A pessoa só consegue se libertar realmente do demônio pela força da fé e da oração. Se não acredita, passará a acreditar. É preciso se reconciliar com Deus. Trocar as portas da nossa casa espiritual para que ele não volte a entrar.
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