sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Cristãos perseguidos: entrevista ao coordenador do Observatório da Liberdade Religiosa (em Itália)

A Igreja celebrou há pouco Santo Estevão, o primeiro mártir que, apedrejado até a morte, pedia ao Senhor para não imputar este pecado àqueles que o estavam matando. O pensamento vai, pois, para os muitos cristãos que no mundo sofrem perseguição ou são mortos pela fé em Cristo. Quem confirma que este fenómeno é, infelizmente, ainda muito difundido, é o coordenador do Observatório da Liberdade Religiosa na Itália, Massimo Introvigne, entrevistado por Debora Donnini:
- O Centro de estatísticas religiosas talvez mais avançado é aquele fundado e dirigido - até à sua morte, em 2011 - por David Barrett, nos Estados Unidos. Segundo este Centro, estima-se que também neste ano de 2012, foram assassinados pela sua fé 105 000 cristãos: isto significa um morto em cada 5 minutos. As proporções são, portanto, assustadoras ... 

Há países, como a Nigéria, onde por causa da violência fundamentalista dos Boko Aram, é perigoso até mesmo ir à Missa, ou seja, ir à missa significa arriscar a própria vida ...
- As áreas de risco são muitas, podem-se identificar essencialmente três principais: os Países onde é forte a presença do fundamentalismo islâmico - Nigéria, Somália, Mali, Paquistão e algumas regiões do Egito; os Países onde ainda existem regimes totalitários de estilo comunista, à frente dos quais está a Coreia do Norte; e ainda os Países onde existem nacionalismos étnicos, que identificam a identidade nacional com uma religião em particular, de modo que os cristãos seriam traidores da Nação. Penso nas violências do Estado de Orissa , na Índia. Na verdade, em muitos destes Países ir à missa ou até mesmo ir à catequese tornou-se em si mesmo perigoso. Na Nigéria, houve um massacre de crianças que iam à catequese.

- No Paquistão, a lei da blasfémia para os cristãos, de facto, constitui um grande perigo ... Mesmo em nome desta lei recordamos Asia Bibi, a mulher mãe de cinco filhos ainda na prisão, condenada à morte exactamente em nome desta lei ...
- A Itália foi o primeiro País a adoptar Asia Bibi. Certamente os seus esforços até agora salvaram-lhe a vida, mas não devemos esquecer as execuções e os linchamentos, porque às vezes é a própria multidão – eventualmente reforçada por algum pregador - que lincha o acusado antes da condenação. No Paquistão tornou-se, infelizmente, cenas habituais e não existe apenas o caso de Asia Bibi.

Em sua opinião, porque é que há tanto ódio para com os cristãos no mundo, de facto, ao ponto de se tornarem no gruporeligioso mais perseguido?
- De um lado está a perseguição sangrenta, as mortes por assassinato e as torturas, que são o resultando de algumas ideologias específicas: a ideologia do fundamentalismo islâmico radical, as versões mais agressivas dos etno-nacionalismos e, naturalmente, o que ainda sobrevive da velha ideologia comunista. Sem colocarmos absolutamente no mesmo plano dos mortos - que certamente seria errado - devemos, contudo, recordar que existem fenómenos de intolerância, que é um facto cultural, ou de discriminação por meio de medidas legislativas injustas, que se verificam também nos nossos países, mesmo no Ocidente, como o Santo Padre recordou novamente na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2013. Não surpreendentemente, no discurso de cumprimentos de Natal à Cúria Romana há poucos dias, o Papa falou dos perigos e, por assim dizer, de uma ditadura cultural exercida por uma ideologia específica, e entre as várias tem aquela do “gender” (género). Estas ideologias, é claro, sentem-se ameaçadas pela voz dos cristãos e pela voz da Igreja e, portanto, os seus lobistas promovem campanhas de intolerância e discriminação.

Santo Estêvão morreu pedindo ao Senhor para não imputar aos seus assassinos este pecado. A partir dos testemunhos que recolheu, emerge que os cristãos, claramente através da misericórdia de Deus, conseguem perdoar os seus perseguidores?
- Naturalmente, quando se fala de 105 000 mortos por ano, nem todos estes são mártires no sentido teológico do termo. No entanto, dentro deste número existe um - certamente menor - que inclui pessoas que muito conscientemente oferecem a sua vida para a Igreja e muitas vezes rezam também para os seus perseguidores e a estes oferecem o perdão.

E isto é chocante, porque poder perdoarde alguma forma, os próprios perseguidores é verdadeiramente uma obra que vem doSenhor ...
- Devo dizer que esta é uma característica única do cristianismo, porque muitas outras culturas - pré-cristãs e até mesmo pós-cristãs – falam, pelo contrário, da vingança, como direito e até mesmo verdadeiro dever de honra. O Cristianismo teve esta grande função civilizadora, que hoje se tem a tendência para esquecer, de ter substituído a lógica da vingança com a lógica do perdão.
  fonte:http://pt.radiovaticana.va/Articolo.asp?c=652626

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